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25 de agosto de 2011


Funcionário que trabalha em casa é alvo de empresasAvanço da tecnologia e maior flexibilidade das empresas estimulam contratação de pessoas com escritório em casa


Rodrigo elogia: "Às vezes, ligo a TV, relaxo e a solução chega"
Cartão de ponto virou relíquia. Pelo menos é assim que algumas empresas e trabalhadores encaram o velho e bom "tomador de conta". Apesar de não haver estatísticas oficiais que mensurem os chamados home offices no país, algumas companhias, como a Ticket e a Shell, por exemplo, já investem no conceito e colhem resultados satisfatórios, como aumento de produtividade e economia nos custos. Na primeira, o volume de vendas aumentou 40% depois que seus colaboradores começaram a executar atividades em suas residências e a redução das despesas em cinco anos chega a R$ 3,5 milhões . Na multinacional anglo-holandesa, cerca de 150 pessoas trabalham nesse regime no Brasil.

Comuns em países como a Inglaterra, onde 80% das empresas têm algum funcionário trabalhando em casa - a expectativa é de que em cinco anos esse percentual alcance os 100% -, o conceito home office não agrada somente aos patrões. Funcionários que passaram a executar suas atividades no ambiente doméstico também comemoram. "A empresa só me cobra resultados, prazos e resolução dos problemas. Tenho autodisciplina, mas nas horas em que não consigo respostas, ligo a TV, relaxo e a solução chega. Então, volto a trabalhar", explica o analista de sistemas de uma empresa de processamento de cartões, Rodrigo Bibiano Darly, que prefere o estilo informal para trabalhar em casa. "Bermuda, camiseta e chinelo, tudo bem à vontade", define. Há três anos ele tem um escritório montado em seu apartamento "criteriosamente" para atendê-lo. "Na época que desenvolvia sistemas na empresa, fazia quatro funções por dia. Em casa, consigo desenvolver o dobro. Não há interferência", afirma.

No conceito home office, segundo especialistas, os funcionários passam a ser avaliados pelos resultados que apresentam e não mais por todo o processo. Outro avanço foram as inovações tecnológicas que encurtaram as distâncias físicas. Implantados no Brasil na década de 1990, os escritórios em casa evoluíram e hoje não apenas funcionários da área comercial podem desfrutar - ou desejar - trabalhar em sua residência. O modelo se estendeu a outras áreas. "Principalmente para setores que não precisam de uma presença física constante, que exigem um envolvimento intelectual maior, mas com resultado final", explica a diretora-executiva da Catho em Belo Horizonte, Lizete Araújo.

Pesquisa realizada pela Robert Half, empresa especializada em recrutamento de executivos, revela que a possibilidade de trabalhar em casa é um aspecto importante apontado por 37% dos entrevistados brasileiros. Na França e na Bélgica, esse índice fica abaixo dos 20%. Mas o que motiva uma empresa e um trabalhador a aderirem ao conceito home office? "Nos grandes centros, esse é um modelo que se justifica muito, principalmente pelo ganho na qualidade de vida e redução de gastos, como transporte, por exemplo", diz Lizete.

E é exatamente assim que pensa a gerente de negócios da Ticket, Ana Paola Soares. Ela, que trabalha há 21 anos na empresa do setor de refeição e alimentação-convênio, viveu os dois lados da moeda e, há três anos, trabalha em casa. "A mudança foi positiva. A maior vantagem é a qualidade de vida, é estar perto da família. Hoje, almoço com meus filhos. Quando estava no escritório, tinha que enfrentar o trânsito para chegar ao Vale do Sereno (Nova Lima)", relata. Ana afirma que segue uma rotina: "Inclusive, visto-me como se estivesse na empresa".

Marco Autrélio Silva, gerente de vendas da Shell, afirma que o home office dá mais flexibilidade à agenda e tende a ser mesmo mais produtivo. "Mas exige muita autodisciplina. É comum no início da experiência você trabalhar o dobro e acabar se perdendo", alerta. Segundo ele, regras claras foram implantadas em casa. "Minha esposa me ajuda muito nesse sentido com meus três filhos. Tem horário de brincar, fazer tarefa e até para usar brinquedos barulhentos", define.

A Ticket aderiu ao conceito de home office há cinco anos. De acordo com a superintendente de vendas da companhia, Dalva Braga, o ganho em produtividade é expressivo. "Houve aumento médio de 1,5 visita ao dia. Com o fechamento de novos negócios, a receita proveniente dessas vendas aumentou 76%", diz. Na Shell, os funcionários que trabalham em casa são avaliados periodicamente, com relatórios de desempenho e avaliações semestrais. "O supervisor faz o acompanhamento da equipe, promovendo reuniões mensais ou semanais para manter o relacionamento entre os funcionários", afirma a gerente de desenvolvimento organizacional da multinacional, Patrícia De Nes.

Trabalhadores como Rodrigo, Marco Aurélio e Ana Paola ganharam um reforço a mais esta semana. Na quarta-feira, foi aprovado o Projeto de Lei 4.505/2008, que regulamenta o teletrabalho no país. "É uma vitória, mas ainda deixa boas brigas pela frente, como a definição de não ter horas extras", declara o presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho (Sobratt) e diretor-executivo da Soft Trade, Daniel Castello.

No Brasil, segundo projeções feitas por associados da entidade, existem cerca de 10,6 milhões de teletrabalhadores. De acordo com Castello, não é possível mensurar desse total quantos trabalham em home oficces, já que, no geral, a função engloba trabalho a distância. No entanto, pesquisa da Sobratt com 3,7 mil companhias revela que o teletrabalho estava presente em 25% delas no ano passado. Em 2006, o percentual era de 15%.

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